20 de julho de 2009

Aldeia Belém

Pois eu?
Vim pra São Félix do Araguaia
paquerar as aldeias...
pular, correr, viver nas brincadeiras
sorriso de cara pro mais adiante
Ao que virá, tenho uma criança latente.

A warã é roda de estrela Xavante

Enquanto na aldeia forte foram meus olhos, semi-analfabetos...
mas se fechasse-os, veria eu vivido em sonho
sonho Xavante, feito os feitos em roda de constelação anciã.

Teria dançado no centro da aldeia?
Margaridas em pétalas rodantes
mandala em feitura circulante
Eu feito todinho de corpo magnético ondulante
marcando o passo no chão, estridente.
Vejo o céu da noite tingido verdejantes
Inunda-me uma beleza terrena, altivante.

Sento-me no chão, paciente
apoiando-me no mundo, confiante.
E as estrelas, eternas parceiras cintilantes
ao despencarem das alturas
nos ofertam diária e cadentemente
sonhos, força e luz. Radiantes.

Agradeço, novamente,
à aldeia Belém e à todo povo Xavante.

12 de julho de 2009

Samba de Irmão

Que o Samba do Irmão
cante mais alto, aquecendo o coração
Que a vida eterna preencha qualquer vazio da alma
e a força da alegria, no cotidiano de nosso viver,
faça das trevas uma fina linha
abrindo espaço para o que há de novo,
despertar para outras tantas alvoradas.

Não cristalizemos a sombra da noite,
façamos dela festa de São João,
permitindo que à luz das estrelas
sobrevenha o raiar de novos dias.

Às mudanças que virão,
com carinho de uma estrela guia.
Dedicado a Sérgio e Fernando Vaz Pupo,
sobre música de Martinho da Vila

3 de julho de 2009

Mundo que Muta

E há mais?
Há mais o que ver, sem pestanejar
Não duvide, tudo vai desaguar
Seja sincero, e por acaso nunca duvidaste
da terra, da crosta ao marinheiro expiar
Saia de casa invade o Sol, retrucam os poros
Pessoas são vestes a sacolejar
por dentro almas contidas
esperando suturas a se formar
No oceano da vida todos desaguar
"Abram-se as comportas", esse dia vai chegar
E ninguém, nenhum alguém vai duvidar
Toda sugestão que um dia já chegou
vão se revelar, e todos com Deus irão comemorar
Abram alas! o mundo quer passar!

Ocê pontua com quê?

Não receie. Relaxe.
Pra tudo no seu tempo, vamos sim caminhar.
Tu tem pressa é de que? comer? comer?
Já sabes que tá tudo ligado
os canais uns nos outros, liga aqui dá ali
Entonces mi fio, querdita sim, querdita mais.
Xacaia tudo, desprende os frutos cegos
desapercebido preso nos gaio, segurá pra que?
Ah, deixa pros pássaro comer,
eles sim sabe comé o certo, na hora certa.
Ocê vai fazer o que tem no coração,
afine a escuta, sintonize no canal certo: ocê.com.ocê
É pra esparramar tudo mermo.

Jotinha disse uma vez:

E pra continuar
tem que dar linha pro ar
pipa solta no espaço clássico
bate brisa, bate o coração no olhar
brotam rosas, acolhem-se pétalas
deixe tudo como está
girando como um peão
multi-colorido sobre um certo chão
ponta-cabeça e lá vai ele disco-flutuar
gira eixo, gira mundo girassol
todo alienígena sobre as flores vem pousar
E tu, vem de onde?
Eu venho da casa da coragem
Por todos os mares, desde sempre, vou navegar.
No peito de uma criança, sem medo a respirar.

Ao João Rio, com carinho.

Houvesse quem Visse

Na confusão
também há poesia...
Também a poesia
se esguia, toda
parece linguiça, se estica
pra mor de não ser mordida
E que seje!
não seria ela muito robusta, mesmo que digesta?
Mesmo que digesta, partida, estrofulada
e toda versificada...
Não permaneceria ela, aparentemente confusa
mas porém fervorosa e augusta?
Poesia? diria meu pai: coisa estranha.
Mexida, inxirida, carcomida
e ainda assim, carregada de rima?
e mais ainda, cheia de vida?

Ondéquiocêfoiachá?

Ocê sabe onde tá a vida, seu moço?
E ocê moça, ocê sabe onde tá a vida?

Às veis ela me conta
é, ela me conta, mas só as veis...

Ela me conta que a vida tá
no quintal que a gente a caminha,
pelo mundarel de gente na avenida
Nas moléculas que se organiza,
por dentro a me transformar
No gato que ronrona,
na galinha que cacareja
Nas mãos que me toca...

A vida tá nos zoio, ocê entende?

Onde está a vida menino? ela me pergunta...
e por mais que eu feche os olhos num tem jeito de não escutar...

A vida tá no carrossel que gira
nos planeta lá do céu que orbita
na esquina do encontro
na frase mal dita
na refeição reposta
nas respostas atravessada
num grito do alto de uma montanha...

Onde tá a vida, seu moço,
senão em nosso oiá?