30 de agosto de 2009

Continuidade das histórias de meu pai*

Banana tem caroço,
seo moço?
Não seu lente,
banana tem semente!
Se banana tivesse caroço,
seria o maior alvoroço!
Imagine seu lente,
um demente:
Não saberia se,
comeria semente
e plantaria o caroço!
Ou, se, comeria o caroço
e semearia a semente!
Seo lente,
parece que até aqui
todo mundo mente!
Pois bananeira não nasce
nem do caroço e nem da semente!
E, como bananeira só dá um cacho,
para todo mundo ficar contente, seo lente,
é melhor acabar esse papo. Eu acho!

*Escrito pelo meu pai Fernando Pupo, ao buscar se lembrar de poema que seu pai recitava...

Lata velha

O espelho era de prata
- procurava a exata reflexão
A espada era de aço
- queria firme adesão
A mesa era de ferro
- apoiava-se sem descontração
O peito era de chumbo
- protegia-se da possível radiação
A caneta de ouro, o piso de mármore, o sapato de couro...

Mas perdido em si,
não observa
a grave distorção...
Não vê a curva da luz,
não sente o cheiro das rosas
nem a graça da diferença
Recrudesce na distância do ser.

E apesar de toda prata,
de todo ferro, aço
chumbo e ouro, da força
do mármore e do couro,
a natureza não o é.

A alma trancada
lata
O coração represo
pedra
O Amor de mentira
papel

Banha-se de medo,
Vestindo-se de guerra
E a vida passa, na
velocidade da carne
que estraga numa geladeira.

28 de agosto de 2009

diga, poesia

Se dissesse
Tanto mais acesso à poesia
quanto acesa a luz do dia

Eu sinto
Assim que ela permaneça clara
Como bela se faça estrela d'alva

Me pinta
Sem gasto de uso nem avaria
Que carregue dela a maestria

Tu diga
Ainda ela repousa calma
Que por dentro se fez alta

Se dissesse tanto quanto
Eu sinto assim como
Me pinta sem que
Tu diga, eu, ainda assim,
Pra poesia ecoaria,
Num dia de prata, um silvo na pradaria.

23 de agosto de 2009

As estrelas das Plêiades

Como inspiração deste dia, tivemos todos bons guias. O que aqui se esquadrinha é festa comemoração, florais de toda alegria: aos 10 anos dos florais das Plêiades.

Um abraço de gente miúda
pequena grandeza de ser
altiva esperança em muda
brota do chão raiz faz crescer
Em mim ramos e folhas
meu coração madrigal
borboletas de asas roxas
fazendo festa no quintal

Lápis preto
risco grosso
pele preta
galope forte
patas velozes
sons agudos
toque nas cordas
como esvoaçam minhas crinas
meu longo braço
barulho de casco
palitó ao alto
Relincho para as estrelas
castanholo pro céu
o repique do meu cavalo
e lá se vai meu chapéu...

Plasmo a corda duma proa
Priorizo o contraste, suave
não penso em luz, sem sombra
navego confiante
bússola aponta pro distante
brisa leve me alegra
maresia do oceano me agrega
velha barba branca, sal marinho
faço em águas claras longo caminho

22 de agosto de 2009

Algo soa-me familiar

A vida com seus mistérios
Vai caminhar
Tristeza tanta de chorar
Não haverá

Vamos todos passear
Vamos comungar
A paz que vai chegar
Viver o mundo novo
Que já está em teu olhar
As flores de Ipê, que do caminho que nos liga a Gonçalves se vê. Viva essas meninas, lá das bandas de Minas.

21 de agosto de 2009

pras alteza

Queria agradecer
de coração
Às vezes não sei o que
Não por falta do que dizer,
(dariam livros se assim permitir)
Mas por falta de como chegar
Aí no alto pra ti lhe pedir
Uma brechinha d'ouvido
E lhe sussurar: "obrigado sinhô"

Não sou anjo caído,
Mas lá no alto não posso me pôr
Persisto então daqui de baixo, com todo afinco
Fecho meus olhos e pela mente imagino
Um abraço gostoso, donde sua quentura e seu calor
Fazem de mim um eterno e agradecido menino.

19 de agosto de 2009

Epifaniando

Entra Caruaru
Som contido
Som pra tudo
Cutuca tu
Cutuca ti
Faz bambu

Não falta pra sol
Uma nota si ré
Flauta em mi m
Fá-flauta em nó ta
Flauta sim
Flautim vai lá
Homenagiá
Caruaru Matuá

18 de agosto de 2009

Verdade do dia

Antes de vir eu já sabia
Ele me colocaria
Onde não faltaria
Nem por um dia
Um bocado de alegria

Então me diria:
Vai menino, fazer sua folia!

13 de agosto de 2009

Descabido

Tenho de medo de mulher
Como tenho da vida.
Se me lançasse sem tê-los,
As amaria de forma descabida?

10 de agosto de 2009

Das flores que brotam do asfalto

Uma criança brotou hoje.
O mundo apressado, solto, rápido, corrente...
E uma criança brotou hoje
De sua barriga-botão saiu lindo, como toda força nascente

Uma criança respirou hoje
As calçadas fervilhantes sapatos sem parar,
E ele, ainda de pálpebras cerradas
Não vê a sujeira das ruas, mas sente.
Berra ainda a pleno e prematuro pulmão,
Mas tua inspiração já lhe acena
Que de tuas mãos haverão de nascer broto-sementes
De compreensão, de festa, da alegria forte do coração
Da dança, do sorriso, da paz que persevera, paciente

Uma criança brotou hoje
E se por acaso tocares nela,
Se por acaso tiveres esta alegria,
Se tu não receares, nem por um instante,
E tocares através de seu peito o coração
Inundaria-o a força fresca de uma esperança - Ah criança quente!
Quente como é quente, como é o alimento-sol da flor
Da flor-criança-botão que brotou hoje e que é,
Afinal de contas e acima de tudo... gente, humana gente!

Ao querido Joaquim, que nasceu de carreirinha nos números: às seis, dia sete, mês oito, ano nove.

9 de agosto de 2009

Vou ali, tá?

Volitar é um caminhar cantado
Deslize solfejado duma voz que vem d'alma
Me ajeito de todo traquejo, dispo de tudo meus pés

Volitar é um andar sublime
Muito se aparenta distante do solo um desligue
Mas se confunda não, pois que só com as aparência muito não se alcança

Que esse tal de volitar carece pelo miolo da Terra se aterrar
E para o céu admirá e de estrelas se banhá, toda ternura...
E deixar crescer os calor do peito
Alumiá a luz de um cristo engrandecedor

Espalhar as asas, um passarinho, me esvoaçar
Uma vontade sincera, adejada pelo ar
Uma vontade sincera, adejada pelo ar...