Mas foi assim, deitei os olhos.
Fui lá no meu menino, longe pra ver como é que foi.
Naquilo que era o meu presente, eu, pela lente dele,
via claro, via nítido, via sim. Via o desenrolar do rolo velado.
Naquele momento ali, passado era presente no futuro.
Então ao menino representeei. À mim, me recoloquei.
Ao menino então lancei: “Ei, menino, caminhe à frente” –
como num espelho, eu caminho cá tu caminha rente.
Nas costas dum espelho espelhado tu caminha cá, eu caminho rente.
Ninguém sabe ninguém nunca viu, qualé que é eu, qualé que é tu.
No passado tu - tá presente eu, no futuro eu - tá presente tu.
Qualquer é tu, qualquer sou eu. No tracejado reto
do plano espelhado, qualquer imagem é objeto, de qualquer
jeito eu sou tu e tu sou eu.
um lugar exógeno dentro de mim pra nunca ter que lembrar de todas as palavras que cabem numa só sentença: assim.
25 de outubro de 2009
17 de outubro de 2009
Pintura de parede
Já eu, não. Queria é ter uma casa de papel de algodão.
Aí eu pudesse, por todos os pontos seus poros
aquarelar de cor tinta azul, a parede como o teto anil do céu
Então eu mesmo pintaria toda gaivota bonita
voando com o sopro do vento na aba do chapéu
Aquarelar
Aqua rega escorrega
passarela de tinta
espraiando pelo ar...
Aí eu pudesse, por todos os pontos seus poros
aquarelar de cor tinta azul, a parede como o teto anil do céu
Então eu mesmo pintaria toda gaivota bonita
voando com o sopro do vento na aba do chapéu
Aquarelar
Aqua rega escorrega
passarela de tinta
espraiando pelo ar...
15 de outubro de 2009
Desta criança que se fala
Deixo minha vida com ela:
mais sagaz e esperta,
essa minha criança paralela...
Vem comigo às vezes antes,
deveras mais adiante.
Meu destino é chegar nela
o dela é pegar em minha mão
com a sua pequenina e me guiar
pelos cantos bonitos, me mostrar
preciosidades quase escondidas pelo chão
somos como duas retas,
hoje ladeadas,
em breve bem coladas.
farei dela um bocado mais eu
farei, deste eu, um capricho da vida bela.
mais sagaz e esperta,
essa minha criança paralela...
Vem comigo às vezes antes,
deveras mais adiante.
Meu destino é chegar nela
o dela é pegar em minha mão
com a sua pequenina e me guiar
pelos cantos bonitos, me mostrar
preciosidades quase escondidas pelo chão
somos como duas retas,
hoje ladeadas,
em breve bem coladas.
farei dela um bocado mais eu
farei, deste eu, um capricho da vida bela.
10 de outubro de 2009
Veio do Rio
Ah, rio de dentro
em mim desde a criação
Ah, rio de dentro
faz de mim teu eterno leito
Ah, rio de dentro
entrega-me em tua mansidão
Ah, rio de dentro
mata minha sede quando atravesso o sertão
Ah rio de dentro
corro com teus cascalhos,
rolo-me em teus seixos
e espraia-me nas areias finas...
Destino azul marinho,
viver tua imensidão...
em mim desde a criação
Ah, rio de dentro
faz de mim teu eterno leito
Ah, rio de dentro
entrega-me em tua mansidão
Ah, rio de dentro
mata minha sede quando atravesso o sertão
Ah rio de dentro
corro com teus cascalhos,
rolo-me em teus seixos
e espraia-me nas areias finas...
Destino azul marinho,
viver tua imensidão...
5 de outubro de 2009
4 de outubro de 2009
Carta à minha mãe
Aos teus 59 aninhos, um presente com muito carinho. Pras experiências novas que muito vão surgir, todas vivências que tiver pelas bandas de Gonçalves, terra mineira das Minas Gerais.
O livro "Manual do Arquiteto Descalço" lembra-me das discussões que faço em meu trabalho, sobre o conhecimento técnico e o tácito, esse que trazemos em nosso ser. Ele serve então pros arquitetos de diploma, mas também para os de coração. Comprei pra ti então, pois sei que minha mamãe tem em seu jeito alvoroçado um olhar todo especial, arquitetônico, empreendedor, construtor: de faces planas, de copa espaçosa pras refeições bem repostas, janelas claras pras almas iluminadas, de lares bem servidos pra vida bem vivida.
Você, mãe querida, é arquiteta dos sonhos mais bonitos.
E não se esqueça, jamais, de quem você é e de toda sua essência. Que é sabendo quem fomos que construimos quem seremos.
A toda hora, a todo instante.
Saiba que o esquecimento (que é sempre temporário) não desfaz o humano em nós, que nem toda amargura do mundo é capaz de abalar a poesia do viver.
Lembra-te de que toda e qualquer violência que nos agride, apesar de nos apertar o coração, é insignificante diante da beleza e da força da vida.
Tenhamos olhos de ver para além do imediato, de sentir mais adiante do que o tato.
Pois que que mesmo de sapatos, na verdade caminhamos descalços;
Que a poesia se destila, ainda quando estamos angustiados;
Que vivemos sempre nus, ainda que vestidos, de casacos;
De que tudo é dito, até quando permaneçemos calados;
Que o mundo gira, apesar de às vezes ficarmos parados.
Seja tu minha mãe. Arregace as mangas da tristeza e recolha energia de tua fonte mais verdadeira: a da alegria, que tanto te compõe. Permita o aprendizado da vida, não o revogue. É deste aprendizado que sobrevirá a nova qualidade a ser vivida.
Confie em ti. Sempre.
Afinal, todo dia é dia de se fazer destino.
Com muito amor e emoção
do seu filho que te ama,
Marcelo.
O livro "Manual do Arquiteto Descalço" lembra-me das discussões que faço em meu trabalho, sobre o conhecimento técnico e o tácito, esse que trazemos em nosso ser. Ele serve então pros arquitetos de diploma, mas também para os de coração. Comprei pra ti então, pois sei que minha mamãe tem em seu jeito alvoroçado um olhar todo especial, arquitetônico, empreendedor, construtor: de faces planas, de copa espaçosa pras refeições bem repostas, janelas claras pras almas iluminadas, de lares bem servidos pra vida bem vivida.
Você, mãe querida, é arquiteta dos sonhos mais bonitos.
E não se esqueça, jamais, de quem você é e de toda sua essência. Que é sabendo quem fomos que construimos quem seremos.
A toda hora, a todo instante.
Saiba que o esquecimento (que é sempre temporário) não desfaz o humano em nós, que nem toda amargura do mundo é capaz de abalar a poesia do viver.
Lembra-te de que toda e qualquer violência que nos agride, apesar de nos apertar o coração, é insignificante diante da beleza e da força da vida.
Tenhamos olhos de ver para além do imediato, de sentir mais adiante do que o tato.
Pois que que mesmo de sapatos, na verdade caminhamos descalços;
Que a poesia se destila, ainda quando estamos angustiados;
Que vivemos sempre nus, ainda que vestidos, de casacos;
De que tudo é dito, até quando permaneçemos calados;
Que o mundo gira, apesar de às vezes ficarmos parados.
Seja tu minha mãe. Arregace as mangas da tristeza e recolha energia de tua fonte mais verdadeira: a da alegria, que tanto te compõe. Permita o aprendizado da vida, não o revogue. É deste aprendizado que sobrevirá a nova qualidade a ser vivida.
Confie em ti. Sempre.
Afinal, todo dia é dia de se fazer destino.
Com muito amor e emoção
do seu filho que te ama,
Marcelo.
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