4 de outubro de 2009

Carta à minha mãe

Aos teus 59 aninhos, um presente com muito carinho. Pras experiências novas que muito vão surgir, todas vivências que tiver pelas bandas de Gonçalves, terra mineira das Minas Gerais.

O livro "Manual do Arquiteto Descalço" lembra-me das discussões que faço em meu trabalho, sobre o conhecimento técnico e o tácito, esse que trazemos em nosso ser. Ele serve então pros arquitetos de diploma, mas também para os de coração. Comprei pra ti então, pois sei que minha mamãe tem em seu jeito alvoroçado um olhar todo especial, arquitetônico, empreendedor, construtor: de faces planas, de copa espaçosa pras refeições bem repostas, janelas claras pras almas iluminadas, de lares bem servidos pra vida bem vivida.

Você, mãe querida, é arquiteta dos sonhos mais bonitos.

E não se esqueça, jamais, de quem você é e de toda sua essência. Que é sabendo quem fomos que construimos quem seremos.
A toda hora, a todo instante.

Saiba que o esquecimento (que é sempre temporário) não desfaz o humano em nós, que nem toda amargura do mundo é capaz de abalar a poesia do viver.
Lembra-te de que toda e qualquer violência que nos agride, apesar de nos apertar o coração, é insignificante diante da beleza e da força da vida.

Tenhamos olhos de ver para além do imediato, de sentir mais adiante do que o tato.
Pois que que mesmo de sapatos, na verdade caminhamos descalços;
Que a poesia se destila, ainda quando estamos angustiados;
Que vivemos sempre nus, ainda que vestidos, de casacos;
De que tudo é dito, até quando permaneçemos calados;
Que o mundo gira, apesar de às vezes ficarmos parados.

Seja tu minha mãe. Arregace as mangas da tristeza e recolha energia de tua fonte mais verdadeira: a da alegria, que tanto te compõe. Permita o aprendizado da vida, não o revogue. É deste aprendizado que sobrevirá a nova qualidade a ser vivida.

Confie em ti. Sempre.
Afinal, todo dia é dia de se fazer destino.

Com muito amor e emoção
do seu filho que te ama,
Marcelo.