22 de dezembro de 2009

Minha mãe a sonhar*

Tive um sonho. Estava numa colina, na qual via meus filhos, meus netos, meus pais, sogros. Então, também me via junto com meu companheiro. Na tranquilidade de minha maturidade via meus netos correndo, felizes, saudáveis. Pequenos instrumentos musicais compunham o cenário. Cantores mirins formavam um coral. Mais além, pequenas enxadas e ancinhos trabalhavam num pomar, outros num jardim. Toda esta paisagem formava um lindo arco-íris formado por todas as raças. E parecia um sonho dentro do meu sonho. O som da música, das pás, do serrote numa mini marcenaria formavam uma orquestra que tinha o amor como compasso principal, a solidariedade como tom maior, a igualdade como clave universal.

Virei-me bem devagar junto com meu companheiro e vimos os nossos e outros filhos com os olhos fixos nos seus e nos filhos de todos. Estavam felizes! Realizados emocional e profissionalmente. Lutavam por ser ainda melhores, mas não tinham a preocupação do desemprego, da fome, da miséria da ausência do lazer. O trabalho manual e intelectual se complementavam. Eram cidadãos de um país fantástico.

Então nossos olhos procuraram a sabedoria e encontramos os nossos e todos os mais velhos que nós. As lágrimas caíam mas nossos lábios sorriam. Víamos nosso futuro não tão distante e já não tínhamos medo!

Ao som do forró, da valsa, do bolero e do rock, casais se juntavam e, ritmados, aquela massa humana formou um corpo de baile belíssimo.

Subimos num pequeno morro. Nossas vistas alcançaram longe. Como num oceano, cabeleiras brancas, outras pintadas, imitavam as ondas no vai e vem do mar.

Fixamos nossa visão nos rostos. O tempo deixou-os com rugas, afora algumas plásticas. Eram as rugas da história de vida de cada um. Elas resumiram o conhecimento, a experiência, as dores e as alegrias do passado de cada um. Mas era a vida em sua plenitude. Viúvos e viúvas reencontrando o amor e carinho. Casais antigos revendo o passado, o momento atual de suas vidas e vendo a continuidade do futuro nas crianças.

Não havia angústia, medo ou solidão.
Não havia discriminação e isolamento
Havia consideração, respeito e muito amor.


*Escrito por Inês Albuquerque Pupo