Hoje desembocou um bocado de memórias do sertão, que falando-me desde setembro passado, só encontrei jeito de dizê-las agorinha há pouco....
Naquela manhã
foi-se o vento da discórdia
que sempre passava
assustando o vilarejo.
Naquela manhã,
foi-se o tempo de cólera
que há muito não o abandonava
Naquele dia,
viu-se uma margarida
em festa clara, pelo vale todo
E ele, enluarado fazia-se pasto...
não de capim, nem de arado,
mas de uma fome sertaneja
que encobria-nos até as cabeças
não saciava-se de pão e nem de girimum,
nem virando a panela ao avesso
Essa fome era das noites do sertão
do banquinho da fogueira,
da brasa de um coração
de uma festa mateira
que corria solta, sem estribeira
no cancioneiro do peito
da viola de um violeiro.
Por essas casas marcam-se histórias,
delas todas, dores, tristezas e festejos
que não se desbotam - como o pasto,
que mesmo marcado, judiado de seca,
não se ressente da estiagem nem
da quentura dos longos dias
e rebrotava firme e vigoroso
assim que no céu a nuvem surgia
Não há jeito de se esquecer,
marca de memória tem registro forte,
profunda na gente a maneira de ser
tantas vezes mais doído que
gado marcado, ferrado a fogo.
O fogo das lembranças, é que
ela queima e arde, talhando
na alma as coisas muito nossas,
lambendo tudo e fagulhando desde
dentro pelo miolo do íntimo,
sem nem mesmo a gente se aperceber..
Mas basta a sobriedade da coragem
de tudo isso querer ver, re-esculpir
pra fazer do fogo das lembranças
formão de aparador, desbastando e
desvelando tudo aquilo que o sonho da noite,
claro como a luz do dia,
há tempos já nos indicou.